domingo, 17 de abril de 2011

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Velho - Novo livro













Ser humano é o "terceiro chimpanzé", diz biólogo

Clássico de americano utiliza humorpara investigar a natureza humana

Livro que chega neste ano ao Brasil traz ideias seminais sobre raízes do sexo, do preconceito, da violência e do vício

"Ainda não temos uma Grande Teoria Unificada do Tamanho do Pênis", brinca o biólogo americano Jared Diamond, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, quando a reportagem da Folha aborda esse tema.
"Nossa incapacidade de explicar o tamanho desmesurado do pênis humano continua sendo um dos fracassos mais embaraçosos da ciência moderna", completa Diamond, que gastou alguns dos parágrafos mais divertidos da história da biologia evolutiva enfrentando a questão no livro "O Terceiro Chimpanzé".
A obra, clássico de 1991 que só agora chegou ao Brasil, consegue a façanha de transformar a discussão em algo um bocado relevante.
Ocorre que, entre os grandes macacos ""grupo dentro do qual o homem se encaixa como o terceiro chimpanzé do título, ao lado do chimpanzé-comum e do chimpanzé-pigmeu ou bonobo"", o tamanho relativo do corpo, dos testículos, dos pênis e dos seios é a chave para entender a natureza de cada espécie.

EM FAMÍLIA
O resumo dessa ópera bufa está no infográfico à direita, baseado numa ilustração do próprio livro. Se um biólogo de Marte baixasse por aqui, só precisaria desses dados para saber que 1)chimpanzés são promíscuos, 2)gorilas formam haréns e 3)humanos são, bem, "fracamente monógamos".
Os gorilas são o caso mais fácil. A brutal diferença de tamanho entre machos e fêmeas implica que eles podem, na base do muque, monopolizar várias feito sultões. Daí os testículos e pênis pífios.
Chimpanzés, mais igualitários fisicamente, adotam a promiscuidade ""e testículos imensos para dar conta dela. E os humanos trocaram as despesas com esperma pelas com canções de amor, chocolates e idas ao cinema.
"A evolução de uma sexualidade distinta parece ter sido uma das chaves para tornar os seres humanos únicos, embora seja difícil dizer a que época remonta a nossa quase-monogamia", diz o autor.
Que o leitor não pense, porém, que o livro é só sexo. É nele que aparecem, pela primeira vez, as importantes e polêmicas ideias de Diamond sobre os "vencedores" e "perdedores" da história.
Ou seja: por que europeus conquistaram as Américas e a África, e não o contrário?
A resposta, depois ampliada pelo cientista na obra "Armas, Germes e Aço", envolve esses três fatores ""mas principalmente o fato de que Europa e Ásia possuíam mais espécies domesticáveis de animais e plantas, ganhando um "pontapé inicial histórico" melhor que o resto da Terra.
Aliás, Diamond diz que, apesar do tempo transcorrido, pouco mudaria no livro hoje. Mas faria uma alteração pontual. Hoje, ele considera que os falantes da língua ancestral de quase todos os idiomas da Europa foram justamente os primeiros agricultores vindos da atual Turquia.

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA

Folha de São Paulo


O TERCEIRO CHIMPANZÉ
AUTOR
Jared Diamond
EDITORA Record
QUANTO R$ 59,90
AVALIAÇÃO ótimo


Velório animado

Às 2h da manhã de um sábado no Bronx, a pista de dança estava lotada, as bebidas fluíam e um grupo de mulheres jovens com cortes de cabelo estilosos e saltos altos tinha acabado de chegar, prontas para cair na noite.

Poderia ser qualquer clube noturno ou festa de casamento – exceto pelas camisetas, pôsteres e CDs com a foto de uma mulher mais velha e elegante. A festa do barulho era, na verdade, o velório de Gertrude Manye Ikol, uma enfermeira de 65 anos de Gana que morreu dois meses antes. A alguns quarteirões dali, os convidados saíam de um funeral ainda mais animado.

Os irlandeses podem ser conhecidos por seus velórios festivos, mas os ganenses aperfeiçoaram o funeral exagerado. E na cidade de Nova York, essas festas ancoram o calendário social da comunidade cada vez maior de imigrantes da nação do oeste da África.

Quase todos os finais de semana, nos auditórios das igrejas e clubes da cidade, há eventos que duram a noite inteira, com open bar e música de rachar os vidros. Enquanto as famílias guardam dinheiro para cobrir as despesas com os funerais, equipes prósperas de DJs, fotógrafos, videógrafos, bartenders e seguranças mantêm tudo funcionando enquanto ganham um bom dinheiro.

Pode ou não haver um corpo presente, ou um clérigo. As crenças expressas podem ser cristãs evangélicas, católicas romanas ou seculares. A pessoa pode ter morrido em Nova York ou na África, há alguns dias ou até meses antes. Mas os funerais todos servem ao mesmo fim, como festas beneficentes para as famílias em luto e reuniões noturnas para enfermeiras ganenses, estudantes e taxistas dançarem para esquecer a dura vida de imigrantes em Nova York.

“Para nós é uma celebração, mas para um norte-americano, eles veem como um lugar de tristeza”, gritou Manny Tamakloe, 27, mecânico de aeronaves, mais alto do que a música enquanto bebia uma Guinness no velório de Ikol. “Se você for ganense e vier aqui, verá 10 ou 12 pessoas que conhece e elas o apresentarão a alguém. E antes de você perceber, acaba conhecendo todo mundo.”

“Por que você vai ao bar”, perguntou ele, “se pode vir aqui e ter tudo de graça?”

Casamentos, batizados e aniversários são todos muito celebrados nos círculos ganenses, mas poucos se igualam à escala e ao nível de decibéis de um funeral. Quando Kojo Ampah, 34, não tem planos para o final de semana, ele telefona para o seu amplo círculo de colegas expatriados para perguntar: “Ei, tem algum velório acontecendo?”

Geralmente abertos para todos, os funerais se tornaram maiores e mais frequentes nos últimos anos à medida que a população de ganenses na cidade de Nova York cresceu e se estabeleceu, dizem líderes comunitários. As estimativas do último censo mostram que há cerca de 21 mil ganenses na cidade, principalmente no Bronx, em comparação aos 14 mil que havia em 2005.

As festas são muito esperadas, promovidas com semanas de antecedência com publicidade online - “Reserve esta data”, dizia uma, “quando eu celebro a vida da minha mãe” – ou com pilhas de panfletos encerados nos restaurantes e mercearias africanos. Os panfletos costumam parecer pôsteres de teatro, com fotos da família e dos amigos em luto, conhecidos como os “carpideiros-chefe”, além dos créditos do mestre de cerimônias e da equipe técnica.

Um funeral bem frequentado tem um grande prestígio social – e quanto maior a festa, melhor. Numa noite de sexta-feira, quando Tamakloe já tinha ido a dois velórios, ele descreveu os arranjos para o memorial a um estranho que aconteceria no Bronx.

“Todo mundo está dizendo que este será o velório mais quente do ano”, disse ele.

O engenheiro Henry Boateng passou meses planejando o funeral de seu pai, Albert Ernest Boateng, que morreu em julho em Gana, neste sábado. Ele prevê que pelo menos 300 pessoas aparecerão.

As festas são um costume importado diretamente de Gana, onde os funerais são conhecidos mundialmente por seu tamanho e extravagância. Os caixões lá às vezes lembram carros alegóricos; o de um atleta pode ter a forma de uma bola de futebol, o de um pescador, a forma de um barco.

Em Gana, “o gasto mais significativo que você terá na vida não é o do seu casamento, mas o do seu funeral”, disse Brian Larkin, professor de antropologia que estuda a cultura do oeste da África.

“As pessoas entram numa exibição competitiva”, disse ele.

Como em Gana, os convidados dos velórios em Nova York não precisam conhecer o morto nem mesmo a família. Mas espera-se que eles exprimam suas condolências para a família, abram espaço na pista de dança e doem US$ 50 a US$ 100 – embora muitos não paguem – para ajudar a enviar o corpo de volta para a África ou cobrir outros gastos. Uma grande festa pode levantar milhares de dólares.

De fato, os funerais são o centro de uma economia vibrante. Henry Ayensu, dono de uma gráfica chamada Cre8ive House no Bronx, diz que imprimiu panfletos para 12 funerais ganenses nos últimos dois meses, muito mais do que o de costume.

Os fotógrafos são essenciais. Seis trabalharam no funeral de Ikol em 4 de março, e cada um levou um laptop, uma impressora colorida e um assistente. Eles tiraram fotos dos presentes, imprimiram-nas no local e as venderam por US$ 10 a US$ 20 cada.

Os funerais se tornaram tanto uma mina de dinheiro que às vezes faltam pretextos para eles, disse Ampah. Um novaiorquino, por exemplo, pode dar uma festa para o marido da sobrinha de um primo que morreu em Gana, mesmo que os dois nunca tenham se encontrado e muito pouco do lucro seja destinado à família na África.

Ampah disse que um taxista que ele conheceu ganhou US$ 6 mil num evento desses. “As pessoas não reclamam de pagar porque estão felizes por vir demonstrar apoio e se divertir”, disse ele.

Os funerais costumam começar por volta das 22h com bênçãos religiosas, cerimônias e discursos em inglês e Twi, uma língua de Gana. À meia-noite, a dança começa. Às 2h da manhã, chegam os penetras, e a festa chega ao auge.

Do lado de fora do funeral de Ikol, que aconteceu no saguão de uma igreja perto da avenida Tremont no Bronx, pessoas que chegavam tarde estavam paradas ao lado de seus carros, trocando jaquetas e calças jeans pela espécie de toga tradicional em vermelho e preto, as cores do luto. Meia dúzia de seguranças guardavam a porta.

“Quando eles forem embora, já serão 5h da manhã – sempre”, disse Carlos Rozano, um segurança que trabalhou em mais de uma dezena de funerais ganenses.

Do lado de dentro, o mestre de cerimônias elogiava Ikol por ser um católico devoto e um amigo leal, com a voz amplificada por uma torre de alto-falantes de 4,5 metros. A música começou, e lá pelas 2h, o salão pulsava com os sons da highlife, uma variedade de jazz ganense, músicas de big-band e ritmos africanos. Uma câmera de vídeo capturava a cena, que era projetada numa tela gigante acima do palco.

Francis Insaidoo, um bioquímico que recentemente se mudou para Nova York, disse que os funerais o fazem lembrar que ele pertence a uma comunidade. “Sinto que não estou sozinho”, disse ele.

Ele disse que não conhecia Ikol, mas seu colega de apartamento sim. O colega, bebendo uma cerveja, reconheceu com um dar de ombros que na verdade também não o conhecia.

“Você vem pela festa”, disse Insaidoo.


The New York Times
Sam Dolnick
Nova York (EUA

Tradução: Eloise De Vylder