terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Falácias 3

Dando sequência a nossa lista das falácias mais utilizadas, segue:

Fugir ao Assunto

As falácias desta seção fogem ao assunto, discutindo a pessoa que avançou um argumento em vez de discutir razões para aceitar ou não aceitar a conclusão. Em algumas ocasiões é aceitável citar autoridades, (por exemplo, citar o médico para justificar ouso de um medicamento) quase nunca é apropriado discutir a pessoa em vez dos seus argumentos.

As falácias discutidas nesta seção são:

Ataques Pessoais
Apelo à Autoridade
Autoridade Anónima
Estilo sem Substância

Ataques Pessoais (argumentum ad hominem)

Definição:

Ataca-se pessoa que apresentou um argumento e não o argumento que apresentou. A falácia ad hominem assume muitas formas. Ataca, por exemplo, o carácter, a nacionalidade, a raça ou a religião da pessoa. Em outros casos, a falácia sugere que a pessoa, por ter algo tem algo a ganhar com o argumento, é movida pelo interesse. A pessoa pode ainda ser atacada por associação ou pelas suas companhias.
Há três formas maiores da falácia ad hominem:
(1) ad hominem (abusivo): em vez de atacar uma afirmação, o argumento ataca pessoa que a proferiu.
(2) ad hominem (circunstancial): em vez de atacar uma afirmação, o autor aponta para as circunstâncias em que a pessoa que a fez e as suas circunstâncias.
(3) ad hominem (tu quoque): esta forma de ataque à pessoa consiste em fazer notar que a pessoa não pratica o que diz.

Exemplos:
(i) Podes dizer que Deus não existe mas estás apenas seguindo a moda. (ad hominem abusivo)
(ii) É natural que o ministro digas que essa política fiscal é boa porque ele não será atingido por ela. (ad hominem circunstancial)
(iii) Podemos passar por alto as afirmações de Simplício porque ele é patrocinado pela indústria da madeira. (ad hominem circunstancial)
(iv) Dizes que eu não devo beber, mas não estás sóbrio faz mais de um ano. (tu quoque)
Prova:

Identifique o ataque e mostre que o carácter ou as circunstâncias da pessoa nada tem a ver com a verdade ou falsidade da proposição defendida.
Referências:
Barker: 166, Cedarblom e Paulsen: 155, Copi e Cohen: 97, Davis: 80

Apelo à Autoridade (argumentum ad verecundiam)

Definição:

Ainda que às vezes seja apropriado citar uma autoridade para suportar uma opinião, a maioria das vezes não o é. O apelo à autoridade é especialmente impróprio se:
(i) a pessoa não está qualificada para ter uma opinião de perito no assunto.
(ii) não há acordo entre os peritos do campo em questão.
(iii) a autoridade não pode, por algum motivo ser levada a sério - porque estava brincar, estava ébria ou por qualquer outro motivo.
Uma variante da falácia do apelo à autoridade é o "ouvi dizer" ou "diz-se que". Um argumento por "ouvir dizer" é um argumento que depende de fontes em segunda ou terceira mão.

Exemplos:
(i) O famoso psicólogo Dr. Frasier Crane recomenda-lhe que compre o último modelo de carro da Skoda.
(ii) O economista John Kenneth Galbraith defende que uma apertada política económica é a melhor cura para a recessão. (Apesar de Galbraith ser um perito, nem todos os economistas estão de acordo nesta questão.)
(iii) Encaminhamo-nos para uma guerra nuclear. A semana passada Ronald Reagan disse que começaríamos a bombardear a Rússia em menos de cinco minutos. (Claro que o disse por piada durante o teste do microfone)
(iv) My friend heard on the news the other day that Canada will declare war on Serbia. (This is a case of hearsay; in fact, the reporter said that Canada would not declare war.)
(v) The Ottawa Citizen reported that sales were up 5.9 percent this year. (This is hearsay; we are not n a position to check the Citizen's sources.)
Prova:
Mostre uma de duas coisas (ou ambas): (i) a pessoa citada não é uma autoridade no campo em questão; (ii) mesmo entre os especialistas não há consenso sobre o assunto discutido.
Referências:
Cedarblom e Paulsen: 155, Copi e Cohen: 95, Davis: 69

Autoridade Anônima

Definição:

A autoridade em questão não é nomeada. Isto é uma forma de apelo à autoridade porque quando a autoridade não é nomeada é impossível confirmar se se trata de um perito. Esta falácia é tão comum que merece uma menção especial.
Uma variante desta falácia é o apelo ao rumor. Como a fonte do rumor é, em regra, desconhecida, não é possível verificar se o rumor merece crédito. Rumores falsos e caluniosos são lançados muitas vezes intencionalmente com o objetivo de desacreditar o oponente.

Exemplos:
(i) Um membro do governo disse hoje que uma nova lei sobre posse e uso de armas será proposta amanhã.
(ii) Os peritos dizem que a melhor maneira de prevenir uma guerra nuclear é estar preparado para ela.
(iii) Sabe-se que milhares de operações desnecessárias são realizadas todos os anos.
(iv) Diz-se por aí que o Primeiro Ministro vai decretar outro feriado antes das eleições.
Prova:
Argumente que pelo fato de não conhecermos a fonte e a base da informação, não temos maneira de avaliar a fiabilidade da informação.
Referências:
Davis: 73

Estilo Sem Substância

Definição:

Pretende-se que o modo como o argumento ou o argumentador se apresentam contribui para a verdade da conclusão.
Exemplos:
(i) Nixon perdeu o debate presidencial porque tinha suor na testa.
(ii) Trudeau sabe como dirigir as massas. Ele deve estar certo.
(iii) Porque não aceitas o conselho daquele jovem elegante e bem parecido?
Prova:
É um fato que o modo como o argumento é apresentado, influencia a crença das pessoas na verdade da conclusão. Mas a verdade da conclusão não depende do modo como o argumento é apresentado. Para mostrar que esta falácia está a ser cometida, mostre que, neste caso, o estilo não afecta a verdade ou a falsidade da conclusão.
Referências:
Davis: 61

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